Eu sempre fui coração mole com animais, principalmente com
cachorros...
Crescido em São Paulo, em uma época onde ninguém, nem em sonhos, podia
imaginar um cachorro vivendo em apartamento, eu sempre tive “o trauma” de não
poder ter um bicho de estimação. Aliás, salvo as feiras de animais, bichos em São Paulo não eram lá muito comum, isso viria a render várias histórias e micos, como a vez que, em uma visita ao Simba Safári, ao avistar um Avestruz eu espantadíssimo gritei para minha mãe como aquela galinha era
grande, ou ainda, quando meu avô me mostrou um carneiro e eu fiquei abismado
como aquela taturana era peluda – Sim, sou/fui desses!
Mas cachorros sempre foram meu fraco, em particular, duas coisas ficaram registradas na minha memória, uma delas quando quase eu matei meus pais do coração [kkk], quando ainda na pré-escola eu me soltei da mão minha mãe, corri e enfiei a mão pela grade de uma casa, para alisar "O Grandão!!!" - ele era um Boxer dourado que malandramente adorava receber carinho das crianças que passavam para a escola, naqueles tempos ele realmente era Grandão para mim... só perdia para o Digby, O Maior Cão do Mundo [Caraca, tirei essa do fundo do baú].
A outra, foi em uma noite, voltando para casa com meus pais, um cachorro nos seguiu até a entrada do prédio... não preciso relatar o berreiro que foi, né? Eu teria que esperar até os 13/14 anos para ter um cachorro, lembro do dia que ele chegou... perto do Natal, meus pais saíram e quando voltaram, minha mãe apresentou ele para nós... Um mestiço de boxer, 40 dias, cinza, filho de uma “dama da sociedade” com
pedigree e tudo mais e do vira-lata mais vira-lata que tinha na cidade
[hauhahuaa]. Ela havia escapado na época do cio e dai 60 dias depois já viu, apesar do toda a linhagem dela
ter sido comprometida, ele foi a coisa mais fofa que eu já vi na vida... Apesar do seu porte aristocrático, tinha alma e orelhas de vira-lata! E roubava comida como ninguém! Ele ficaria com a gente por 15 anos e morreria de velhice!
Ao chegar por essas bandas, eu logo vi dois vira-latas que
moram no terreno “da Firma”, o Romeu e sua "namorada/esposa", que só poderia ser a Julieta. Como eu
estou novamente engaiolado em um apartamento, e com eles que mato a saudade dos
meus dogs. Apesar de vira latas, eles são bem cuidados e não é difícil
encontrar na sala das pessoas um saco de ração para alimentá-los.
Já pensei porque ninguém nunca os adotou, mas o tempo me
mostrou que eles gostam daquele lugar... eles são livres lá, chega ser
engraçado ver o Romeu acompanhar o vigia pela ronda, basta o vigia sair da
guarita e lá está ele a postos! E, depois de algumas saliências alguns meses
atrás, eis que Julieta estava “embarazada”.
Barrigudinha que só ela, eu imaginei que ela
pudesse ter complicações no parto e estava meio de olho caso precisasse levá-la
a uma clínica. E qual não foi minha surpresa ao chegar durante essa semana e encontrar
uma mobilização na Firma, Julieta estava voltando de uma clínica, junto de
seus 6 cachorrinhos – que dariam ótimas golas de casacos, como diria o Fred [kkk]. A encontraram “passando mal” e correram para uma
clínica, como os cachorritos eram meio grandinhos, uma cesária foi necessário...
O bacana de tudo isso é ver como as pessoas se rendem nesses momentos, no prédio onde é minha sala, há uma outra divisão e, apesar de dividirmos o corredor, há uma mulher que sempre me chamou a atenção. Até mesmo, porque ela nunca me cumprimentou [kkk], mas me surpreendi ao ver que a "líder" do movimento era ela, me parece que ela pagou a clínica, comprou os medicamentos e era a mais engajada em alimentar os filhotinhos - que tiveram que mamar na seringa nas primeiras vezes. No fim, estávamos todos lá, e Julieta ganhou caixa de papelão, alguém cedeu uma toalha para forrar, ração e tudo mais.
Confesso que fiquei me amarrando para ir embora nesses dias, quem iria tomar conta da Julieta e dos filhotes?! Por um momento quis levar todos para casa, mas novamente eu estou engaiolado em um apartamento... e então me lembrei do meu pai, , naquela noite meio fria de São Paulo alguns
anos atrás, se desdobrando para tentar me explicar porque não podíamos ficar com o
cachorrinho... o mundo e suas voltas!
Como não há expediente no sábado... hoje a tarde passei em
um supermercado e lá fui eu para a Firma levar um lanchinho para a Julieta...
Seu cachorrinho já lhe terá proporcionado muitas alegrias,
Cuide para que ele tenha um final de vida feliz.
Sempre que possível deixe que ele permaneça ao seu lado,
pois este será, realmente, um dos poucos prazeres que lhe restarão na velhice,
A grande despedida está próxima, e ele, por instinto sabe disto.
É natural que deseje então a companhia daquele que aprendeu a amar
e respeitar durante sua vida.
Não o abandone agora.
Ele já não será aquele animal bonito de antes.
Seu pelo começa a cair, seu caminhar perdeu a elegância e sua cabeça, penderá,
cansada, sobre suas patas.
Somente seu olhar acompanhará os passos de seu dono.
Lembre-se que, dentro do peito, ele ainda possui aquele coração
que vibrará com o som da sua voz, do seu mestre.
E, chegando ao fim, não se envergonhe, chore,
Você acaba de perder o mais dedicado dos amigos... O Cão.
(A VELHICE DE UM CÃO)